quinta-feira, 10 de junho de 2021

Locomotiva Kerr Stuart classe WREN.

Estas pequenas locomotivas começaram a ser fabricadas desde 1903 pela Kerr Stuar & Co. Ltd. até 1930 com o fechamento da fabrica. Após isso, a empresa Hunslet Engine Co. Ltd. comprou e assumiu a fabricação deste modelo, que durou até 1941.
Fabricaram-se 163 delas, sendo 5 pela Hunslet. Estas maquinas foram desenvolvidas para trafegar em trilhos de perfil baixo, de até 8 kg/m. Sofreram inúmeras alterações com o passar dos tempos , tais como alteração de posição de rodas, peso, formato da caldeira, etc.
Os modelos mais comuns ficaram conhecidos por "velha wren" e "nova wren" (construídos a partir de 1915). Do modelo antigo, a principal diferença era o sistema de reversão adotado, o "sthephenson", interno aos longerões, com cilindro paralelo a linha de centro das rodas, e alavanca de marcha do lado esquerdo. Vemos o exemplo em sua foto de fábrica oficial acima.
O modelo novo apresentava sistema de reversão "marshall", externo ao longerão, com cilindro inclinado em relação a linha de centro das rodas, alavanca de marcha do lado direito. Na foto abaixo vemos este modelo de maquina. 

Dados técnicos:
Diâmetro/curso dos cilindro: 6" X 9";
Diâmetro das rodas: 1' 8" (533,4);
Base Rígida: 3' (914,4);
Pressão de Trabalho: 140 lbs;
Peso em ordem de marcha: 3 ton;
Potência: 28 HP.
No Brasil possuímos aproximadamente 6 unidades desta pequena locomotiva. A maior concentração foi na SPR que possuiu 4 unidades, utilizando-as em linhas auxiliares de abastecimento de carvão das grandes locomotivas e na construção da via permanente (inclusive participação da construção da duplicação do túnel do Butujuru). Uma dessas encontra-se preservada no museu funicular de paranapiacaba. Curiosamente todas as 6 maquinas ainda existem, com pelo menos 2 delas funcionando em fazendas de particulares, com fins recreativos. 

Acima: imagens e desenhos das locomotivas Wren pertencentes à SPR
Locomotiva Wren ex SPR preservada em Paranapiacaba

São locomotivas amplamente queridas no mundo todo, com diversas outras preservadas. O mundo do modelismo também é atraído pelo seu modelo peculiar e simples, tendo milhares de cópias em "live steam" espalhadas pelo mundo. Nesta foto abaixo, uma Wren "old" convertida para queima de lenha, com uma pequena bomba d'água acoplada nas braçagens.

L. Guidini escreveu em 2017


segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Cerâmica São Carlense

Uma das locomotivas mais misteriosas deste País é sem duvidas a famosa “Cerâmica São Carlense”. Embora após exaustivas pesquisas em diversos veículos de informações e acervos disponíveis para pesquisa, até então, não consegui descobrir nada sobre a empresa em sim, mas aqui vão alguns dados interessantes da ferrovia para qual esta bela maquininha foi construída, e vou desmistificar algumas coisas ao seu respeito.

Foto de Fábrica da locomotiva fabricada para a Cerâmica São Carlense em 1892. Coleção Leandro Guidini

Encomendada à Baldwin Locomotives Works pela Cia Mechanica & Importadora, deveria trafegar em uma linha estilo “decauville” desmontável, em trilhos de 5 Kg por metro, divididos em seções de 5 metros contendo três dormentes de aço rebitados aos trilhos, e mais três dormentes de madeira para apoio por cada seção. A ferrovia tinha aproximadamente 10 quilômetros de extensão, com curvas de 40 metros de raio e rampa máxima de 3%.

Foi entregue em outubro de 1892 sob o número de série 12972, era do tipo 0-6-2T bitola de 60 cm, com tanque de água trazeiro, sem duvidas, uma das menores locomotivas já construída. Possuía apenas 5 metros de comprimento, rodas motrizes com 66 cm de diâmetro, cilindro (pistão) de 10 cm de diâmetro por 30 cm de curso. Uma locomotiva bem diminuta ideal para o trabalho em uma olaria, tracionando pequenas vagonetas em trilhos desmontáveis, assim como pedia o projeto. Nos registros da Baldwin, apenas esta locomotiva foi construída nestas características.

A locomotiva leva o nome “Francisco Cunha Bueno Junior”. O pouco que pude apurar sobre este cidadão, que além de pertencer a famosa família Cunha Bueno, era um político na cidade nos anos 90 do século XIX, o que nos leva a crer que tivesse investimentos pela região, incluindo a própria empresa cerâmica.

No entanto, esta maquina teve destino incerto. A grande dificuldade no passado em mapear as diversas locomotivas gerou alguns equívocos históricos, o que levou aos pesquisadores pioneiros a colocar esta bela locomotiva na listagem de diversas ferrovias, inclusive ao mesmo tempo! Se analisarmos alguns “rosters” feitos pelos primeiros pesquisadores, cruzaremos os dados e perceberemos que ela foi “encaixada” nas lacunas vazias de diversas ferrovias de bitola de 60 cm, aparecendo como se tivesse trabalhado na Estrada de Ferro Perus Pirapora, Ramal Dumont, Ramal de Santa Rita, etc. Não é possível confirmar a veracidade de todas estas passagens, no entanto, com o advento de nossas novas pesquisas, e o surgimento de novas fontes, como os livros dos fabricantes, acesso a relatórios das companhias ferroviárias, documentações históricas outrora inacessíveis, hoje em dia descartamos inúmeros equívocos completando corretamente as lacunas e desonerando essa pequena locomotiva de ter estado em tantos lugares ao mesmo tempo!

A minha proposta, baseado na fotografia anexa, é que esta maquina tenha terminado sua vida na Usina Monte Alegre em Piracicaba - SP, modificada em suas oficinas pelo gênio da mecânica João Bottene. Segundo as características dos desenhos técnicos (gentilmente enviados a mim pelo amigo Thor Winbergs), pela ficha técnica da Baldwin Locomotives Works e pela fotografia do respeitado Calrheinz Hahmann, da coleção do amigo Eduardo Coelho, podemos notar as semelhanças mecânicas, bem diminutas, da locomotiva na usina (vide ambas fotos do artigo). Como não houve outras maquinas com características mecânicas idênticas, mas existem as modificações, com adição do clássico tanque cela em formato de “foguete”, modificação da cabine, e alguns detalhes mais, é bem plausível afirmar que se trata da mesma maquina.

Possivelmente esta é a mesma locomotiva nas dependências da Usina Monte Alegre em Piracicaba, ja com modificações, em março de 1950. Foto de Carlheinz Hahmann, coleção Eduardo Coelho

As pesquisas continuarão até que seja encontrado algo maior sobre a empresa, em si, e a confirmação da destinação e fim desta tão bela e pequena locomotiva. No entanto, um pouco sobre ela já sabemos, pelo menos!

 

L. Guidini escreveu em 24/08/2020